'Venha e me mate': o pedido das formigas doentes para salvar a colônia
As formigas doentes jovens emitem um odor que pede que os indivíduos adultos as matem para proteger a colônia de uma eventual epidemia, revela um estudo publicado nesta terça-feira (2), segundo o qual as rainhas parecem evitar este ato de sacrifício.
Os formigueiros são um "terreno perfeito para que a propagação de uma epidemia, com milhares de formigas se arrastando umas sobre as outras", explica à AFP Erika Dawson, ecóloga comportamental do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria e principal autora deste estudo, publicado na revista Nature Communications.
Quando os adultos contraem uma doença que poderia se propagar, abandonam o formigueiro para morrer sozinhos. Mas as formigas jovens, no estágio conhecido como pupa, ainda estão em seu casulo e não conseguem se distanciar.
Os cientistas já sabiam que quando estas crisálidas estão na fase terminal de uma doença, produz-se uma alteração química que gera um odor.
Os adultos se reúnem ao seu redor, tiram o casulo e "fazem buracos nas crisálidas para difundir um veneno", afirma Dawson. Este veneno atua como desinfetante e mata tanto o patógeno quanto a crisálida.
Este estudo pretendia determinar se as formigas jovens tinham um papel ativo neste processo, emitindo uma mensagem como "Ei! Venha e me mate", acrescenta a pesquisadora.
Primeiro, os cientistas isolaram o odor emitido por uma crisálida doente da família das formigas pretas de jardim (Lasius neglectus) e o introduziram em uma cria sadia de laboratório: as formigas operárias correram para destruí-la.
Os cientistas demonstraram, em seguida, que as crisálidas doentes só produziam este odor na presença das formigas adultas, como se fosse um sacrifício "altruísta", segundo o estudo.
As pesquisas também demonstraram que esta iniciativa autodestrutiva não se aplicava às rainhas em estado de crisálida. Se estão doentes, não o informam à comunidade.
"Descobrimos que as rainhas em estado de crisálida têm um sistema imunológico muito melhor que as operárias. Portanto, são capazes de combater a infecção e acreditamos que esta seja a razão pela qual não se acusam", explica a pesquisadora.
L. Dias--JDB