EUA vai respeitar soberania do México, mas promete manter ataques a cartéis
O governo dos Estados Unidos se comprometeu, nesta quarta-feira (3), a respeitar a soberania do México na luta contra as drogas, mas advertiu que está determinado a seguir atacando os cartéis como garante ter feito contra uma embarcação procedente da Venezuela.
O compromisso, selado durante uma visita ao México do secretário de Estado americano, Marco Rubio, dissipa por enquanto os temores de uma ação militar dos Estados Unidos no território mexicano.
A cooperação com o México na questão da segurança "respeita a integridade (territorial), a soberania de ambos os países", disse Rubio em uma coletiva de imprensa, após se reunir com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum.
Os dois governos formalizaram um protocolo que amplia a cooperação contra o narcotráfico e o contrabando de armas para o México, e o intercâmbio de informações de Inteligência.
Sheinbaum rejeitou em várias ocasiões a oferta do presidente americano, Donald Trump, de enviar tropas para combater os cartéis mexicanos, aos quais Washington designou como organizações terroristas em fevereiro.
Esta negativa levou Trump a assegurar, na semana passada, que a presidente estaria "assustada" diante desta possibilidade, apesar de os dois líderes manterem uma relação fluida.
Nesta quarta-feira, pouco antes de receber Rubio, Sheinbaum declarou que "não é verdade" que esteja assustada e que o México esteja sob o controle dos cartéis do narcotráfico, como Trump sugeriu.
- "Vai voltar a acontecer" -
Ao mesmo tempo em que destacou que México e Estados Unidos alcançaram um "nível de cooperação histórico", Rubio advertiu que seu país não hesitará em repetir ataques como o da terça-feira contra uma suposta embarcação da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua, que teria deixado 11 mortos.
Trump "a fez explodir e vai voltar a acontecer", alertou Rubio, falando em inglês, ao lado do chanceler mexicano, Juan Ramón de la Fuente. "Talvez esteja acontecendo neste exato momento", acrescentou.
"Que não reste dúvida de que estes grupos que têm usado estas rotas marítimas através do Caribe não vão poder continuar agindo com impunidade", insistiu.
A AFP não pôde verificar o número de pessoas a bordo na embarcação, nem suas identidades.
Poucos esperam que os Estados Unidos, sob o comando de um imprevisível Donald Trump, realize no México um ataque similar ao executado perto da costa venezuelana. Ainda mais porque sua presidente tem se concentrado na cooperação na complicada relação com Washington.
No entanto, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, assegurou, nesta quarta-feira, que a operação foi "um sinal muito claro de que esta é uma atividade que os Estados Unidos não vão tolerar" no hemisfério.
Sheinbaum insiste em que qualquer "intervenção" militar americana no México é uma linha vermelha, em meio às acusações de Trump de que seu país não faria o suficiente para conter o tráfico de fentanil para os Estados Unidos.
"Não aceitamos subordinação, mas simplesmente uma colaboração entre nações em igualdade de circunstâncias", costuma repetir a presidente.
- Exército contra os cartéis -
A ação militar marcou uma escalada nas ações dos Estados Unidos depois que Trump assinou uma ordem executiva autorizando o uso do exército contra os cartéis do narcotráfico.
De fato, Washington acusa Maduro de liderar uma rede do narcotráfico denominada 'Cartel de los Soles', aumentou para US$ 50 milhões (aproximadamente R$ 272 milhões, na cotação atual) a recompensa pela captura do presidente e enviou navios de guerra para o Caribe sul.
O líder venezuelano denuncia que tudo isto constitui uma ameaça ao seu país, mergulhado em uma profunda crise.
Mas o México é diferente. Assim como seu antecessor e correligionário Andrés Manuel López Obrador, Sheinbaum, também de esquerda, tem cooperado em grande medida com Trump em sua prioridade-chave de frear a migração para os Estados Unidos.
Nos últimos anos, o México reforçou a vigilância em suas regiões fronteiriças, incluindo em sua própria fronteira sul, porta de entrada para migrantes vindos da América Central a caminho dos Estados Unidos.
Trump culpa os narcotraficantes pelo fluxo de fentanil, o poderoso opioide sintético por trás de uma epidemia de overdoses nos Estados Unidos.
E. da Cruz--JDB