
Guiana, presa com seu petróleo entre Venezuela e EUA

A Guiana, pequeno país da América do Sul com as maiores reservas de petróleo per capita do mundo, tenta desempenhar seu papel entre as ameaças da Venezuela, que reivindica dois terços de seu território, e seu novo aliado, os Estados Unidos, cuja empresa ExxonMobil lidera o boom petrolífero.
A Guiana apoia o envio de navios americanos para o Caribe.
O petróleo e o Essequibo, região rica em recursos minerais reivindicada pela Venezuela, estiveram onipresentes na campanha das eleições gerais de segunda-feira, cujos resultados oficiais ainda estão pendentes.
- A disputa -
A frase "Essequibo is Guyana's", ou "Essequibo ah we own" (O Essequibo pertence à Guiana, em inglês e crioulo, respectivamente) está presente em vários cartazes no país há mais de um ano.
Quase todos os candidatos presidenciais abordaram o tema, incluindo o atual presidente Ifraan Ali, que adotou como eixo central de sua campanha uma postura firme em relação a Caracas.
O governo de Maduro reativou suas reivindicações sobre o território desde 2019. Em 2023 fez um referendo para buscar apoio popular para sua cruzada. Neste ano de 2025, elegeu um suposto governador e deputados para esta região de 159.500 km² sobre a qual Caracas não exerce nenhum poder.
A Guiana sustenta que o traçado da sua fronteira, datado da época colonial inglesa, foi ratificado em 1899 no Laudo Arbitral de Paris, e solicita à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que o ratifique.
A Venezuela, que não reconhece a competência da CIJ, assegura que o rio Essequibo deve ser a fronteira natural, como em 1777, quando era uma colônia espanhola.
- Washington-Georgetown, realpolitik -
No domingo, a Guiana declarou ter sido atacada com "disparos provenientes da margem venezuelana" da fronteira com o rio Cuyuní. Segundo Caracas, a notícia era falsa.
Este tipo de denúncias é recorrente e alimenta a tensão permanente entre os dois países, que prometeram não recorrer à força durante um encontro excepcional entre Ali e Maduro em São Vicente e Granadinas, em dezembro de 2023.
Embora Ali tenha assegurado na segunda-feira que as forças guianenses estavam "em alerta e prontas", a Guiana tem pouco peso diante de seu gigantesco vizinho de 30 milhões de habitantes e um exército de maior porte.
O famoso ditado "os inimigos dos meus inimigos são meus amigos" se aplica perfeitamente à Guiana, que se aproximou dos Estados Unidos apesar de um passado alinhado à esquerda.
Os EUA, que há anos tentam destituir Maduro do poder, reafirmaram repetidamente o seu apoio à Guiana.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio afirmou em março em Georgetown: "Se eles (venezuelanos) atacarem a Guiana ou atacarem (a petroleira americana) ExxonMobil (...), para eles, vai terminar mal".
- Pragmatismo -
O Essequibo "sempre foi parte da Guiana" e a Venezuela o reivindica "por conta do petróleo", afirma, em Georgetown, Ocendy Knights, de 33 anos, convencida de que Caracas reativou suas pretensões após a descoberta de petróleo em alto mar, frente às costas do território em disputa.
O petróleo está no centro do problema. Não só tem muito peso nas relações entre Estados Unidos e Venezuela (Washington impôs a Maduro um embargo petrolífero com licenças de exploração para a Chevron), como também, muitos estimam que Washington aproveita o medo da Guiana em relação à Venezuela para ditar suas condições.
Chris Ram, ativista da sociedade civil, opina que o Estado guianense concedeu contratos petrolíferos excessivamente favoráveis à ExxonMobil, porque "há questões mais amplas. O governo trata a Exxon a pão de ló".
"Por um lado, a Guiana está sendo pragmática. Não podemos igualar a Venezuela, Maduro e seu exército. Precisamos dos americanos", diz.
Maduro, de fato, acusa regularmente Ali de ser um "fantoche" da Exxon-Mobil.
Elías Ferrer, especialista em petróleo e fundador da Orinoco Research, também acredita que Georgetown aceitou receitas menores da exploração pensando em uma possível ajuda dos Estados Unidos.
Também destaca que embora "as reservas per capita sejam as maiores do mundo", elas "continuam sendo" menores do que "as dos grandes produtores". Com uma estimativa de mais de 11 bilhões de barris, o país "não tem muito peso" no mercado, acrescentou.
M. Andrade--JDB