
Putin e Xi mostram sintonia contra Ocidente; Ucrânia denuncia violação da trégua

Vladimir Putin e Xi Jinping exibiram sua sintonia contra um Ocidente "hegemônico" no Kremlin nesta quinta-feira (8), mesmo dia em que a Ucrânia acusou Moscou de violar a trégua de três dias declarada unilateralmente pelo presidente russo.
Mais de 20 líderes estrangeiros participarão de um grande desfile militar na Praça Vermelha, em Moscou, na sexta-feira, para comemorar o 80º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista.
A celebração é um elemento central do discurso patriótico promovido pelo presidente russo, que traça paralelos históricos entre a Segunda Guerra Mundial e a ofensiva contra a Ucrânia lançada em 2022.
Nesse contexto, o presidente russo recebeu nesta quinta-feira no Kremlin seu "querido amigo" Xi Jinping, que chegou no dia anterior para uma visita de três dias.
Após as reuniões, o presidente russo falou de conversas "muito produtivas" com Xi, que por sua vez as descreveu como "profundas, cordiais e frutíferas". "Concordamos em muitas questões", disse o líder chinês.
O Kremlin indicou que os dois discutiram questões de política, segurança e relações econômicas, mas não falaram sobre a guerra na Ucrânia, por enquanto.
"Continuaremos coordenando estreitamente as nossas posições", garantiu o presidente russo, que acrescentou que pretende "aprofundar" a cooperação russo-chinesa.
Xi Jinping afirmou que as relações Pequim-Moscou injetam "energia positiva" em um mundo em crise e criticou a "tendência" do Ocidente ao "unilateralismo" e à "intimidação hegemônica".
- Estagnação diplomática -
Soldados da China e de uma dúzia de outros países participarão do desfile militar na sexta-feira, que a Ucrânia alega ser um "apoio ao Estado agressor russo".
A ordem do presidente russo de enviar tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 desencadeou um conflito que deixou dezenas de milhares de mortos militares e civis em ambos os lados. O Exército russo ainda ocupa quase 20% do território ucraniano.
Os esforços para acabar com as hostilidades, iniciados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desde seu retorno à Casa Branca, parecem estagnados.
A Ucrânia exige um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de iniciar negociações diretas com a Rússia, um pedido que Putin rejeita.
Apesar da trégua anunciada por Putin vigorar até sábado, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Andrii Sibiga, acusou o Exército russo de atacar "em toda a linha de frente" e mencionou centenas de violações do cessar-fogo.
"Esta noite, nada mudou", disse Andrii, um soldado ucraniano de 50 anos em Kramatorsk, na frente leste, à AFP.
"Até agora não há trégua", confirmou um porta-voz da brigada ucraniana Khartiia na região de Kharkiv, ao denunciar "fogo pesado" e projéteis disparados por pequenos drones.
Segundo a Força Aérea ucraniana, entre 21h00 GMT (18h00 de Brasília) de quarta-feira e 5h00 GMT (2h00 de Brasília) desta quinta-feira, "não foi registrado nenhum lançamento de míssil ou uso de drones de ataque no espaço aéreo ucraniano".
Putin já havia declarado unilateralmente um breve cessar-fogo em abril, durante o feriado da Páscoa, o que reduziu a intensidade dos combates, embora não tenha sido totalmente respeitado por ambos os lados.
Enquanto isso, o Parlamento ucraniano ratificou, nesta quinta-feira, o acordo "histórico" com os Estados Unidos sobre a exploração dos recursos naturais do país, assinado após semanas de negociações, anunciou a ministra da Economia ucraniana.
O documento refere-se à extração de minerais, petróleo e gás na Ucrânia, mas não inclui garantias de segurança, como Kiev havia solicitado.
M.A. Pereira--JDB