
Esperança e dúvidas no Afeganistão após o reconhecimento do governo talibã por parte da Rússia

A decisão da Rússia de reconhecer o governo dos talibãs no Afeganistão foi recebida, nesta sexta-feira (4), por alguns afegãos como uma oportunidade de melhoria econômica no país, um dos mais pobres do mundo, enquanto outros foram mais céticos.
A Rússia tornou-se oficialmente na quinta-feira o primeiro país a reconhecer o emirado islâmico estabelecido pelos talibãs no Afeganistão em 2021, quando retornaram ao poder após derrubarem o governo apoiado pelas potências ocidentais. Desde então, nenhum outro Estado no mundo havia reconhecido esse Executivo.
"Com a situação atual no Afeganistão, com todos os desafios, todo o mundo está preocupado. Se o mundo reconhecer o Afeganistão, ficaremos felizes, neste momento até o menor [gesto] conta", comentou Gul Mohammad, de 58 anos, em Cabul.
Apesar de ter uma lembrança amarga da invasão soviética ao Afeganistão em 1979, quando ele "perdeu tudo" e teve que se refugiar no Paquistão, Gul Mohammad considera que as "prioridades agora são diferentes".
Por sua vez, Jamaluddin Sayar, um piloto aposentado de 67 anos, disse estar seguro de que a decisão de Moscou fomentará "o comércio e a prosperidade econômica".
Segundo ele, outros países, "tanto ocidentais como orientais" deveriam reconhecer o governo dos talibãs e "parar de espalhar propaganda contra o emirado islâmico".
- Reconhecimento que "não levará a nada" -
Tanto Moscou como Cabul celebraram o reconhecimento, afirmando que abre as portas para um aumento da cooperação, sobretudo em áreas como segurança e economia.
Mas em um país onde qualquer tipo de dissidência é estritamente censurada, os moradores de Cabul têm medo de criticar abertamente as autoridades talibãs.
Um habitante da capital, Atef (um pseudônimo) não acredita que as condições de vida dos afegãos comuns irão prosperar porque o Afeganistão e a Rússia têm melhores relações.
"Creio que o Afeganistão voltará a cair nas armadilhas dos russos, os problemas e desafios aumentarão, não há nada que possa ajudar o povo comum", disse o jovem de 25 anos, desempregado.
"As pessoas lutam e continuarão lutando, com ou sem reconhecimento", declarou.
Para os ativistas pelos direitos das mulheres afegãs, especialmente aquelas que defendiam que a comunidade internacional isolasse os talibãs, que a Rússia reconheça seu governo é um revés que "legitima" as restrições impostas às mulheres no Afeganistão.
As autoridades talibãs, que também governaram o país entre 1996 e 2001, voltaram a impor uma versão extremamente rigorosa da lei islâmica.
"As organizações de direitos humanos tentam fazer com que o apartheid de gênero no Afeganistão seja reconhecido, pois os talibãs são um regime repressivo contra as mulheres", ressaltou a ativista Hoda Khamosh, que reside na Noruega.
"Portanto, esses reconhecimentos não levarão a nada", apontou.
As questões de segurança são um eixo crucial nas relações entre as autoridades talibãs e a comunidade internacional, que teme que o Afeganistão se torne um terreno propício para o ressurgimento de grupos insurgentes.
Cabul garante que nenhum grupo planeja ataques contra outros países a partir de seu território.
Em 2024, um atentado reivindicado pela ramificação afegã do grupo jihadista Estado Islâmico deixou 137 mortos em uma sala de concertos de Moscou.
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P.F. da Conceiçao--JDB