
Primatologista Jane Goodall morre aos 91 anos

A britânica Jane Goodall, pioneira no estudo dos chimpanzés e ícone das causas ambientais, morreu, aos 91 anos, anunciou nesta quarta-feira (1º) o instituto que fundou e leva o seu nome.
Jane morreu enquanto dormia, em Los Angeles, onde participava de um ciclo de palestras nos Estados Unidos, informou o instituto no Instagram.
Em seu último vídeo publicado, Jane diz: "Alguns de nós podem dizer 'Bonjour'. Outros, 'Guten Morgen', mas eu posso dizer '¡Hoo-hoo-hoo-hoo-hoo-hoo-hoo!' Isso é 'bom dia' em chimpanzês."
Aos 91 anos, essa grande figura da ciência do século XX seguia percorrendo o mundo, acompanhada de um chimpanzé de pelúcia, com o objetivo de chamar a atenção para os ataques à biodiversidade e buscar ações contra as mudanças climáticas.
"Deixa um legado extraordinário para a humanidade e o nosso planeta", publicou no X o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre Jane, nomeada Mensageira da Paz pela ONU em 2002.
Jane "foi capaz de compartilhar os frutos de sua pesquisa com todos, especialmente com os mais jovens, e mudar nossa perspectiva sobre os grandes primatas", declarou à AFP Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco.
A atriz americana Jane Fonda, conhecida ativista ambiental, declarou-se desconsolada pela morte de Jane. "A melhor maneira de honrar sua vida é tratar a terra e todos os seus seres como nossa família, com amor e respeito", afirmou.
- Chimpanzé de pelúcia -
A paixão pelos animais de Jane, nascida em 3 de abril de 1934 em Londres, começou na infância, quando seu pai lhe deu um chimpanzé de pelúcia, que ela guardou por toda a vida.
Também era fã dos livros de Tarzan, sobre um menino criado na selva por macacos que se apaixona por uma mulher chamada Jane.
"Quando tinha 10 anos, sonhava em ir para a África, viver com animais e escrever livros sobre eles", declarou à CNN em 2017.
Em 1957, aceitou o convite de uma amiga para visitar o Quênia, onde começou a trabalhar para o famoso paleontólogo Louis Leakey.
Sua grande oportunidade chegou quando Leakey a enviou para estudar chimpanzés em liberdade na Tanzânia. Ela se tornou a primeira das três mulheres que ele designou para estudar os grandes primatas em seu habitat natural, junto com a americana Dian Fossey (gorilas) e a canadense Birute Galdikas (orangotangos).
Jane imitava os chimpanzés, sentava-se com eles e compartilhava suas bananas. Sua descoberta mais famosa foi a de que os chimpanzés usam caules e raminhos de ervas como ferramentas para extrair cupins de seus ninhos. Ela também foi a primeira cientista a perceber que os chimpanzés sentem emoções e podem cometer violência.
Graças à solidez dessas descobertas, Leakey a incentivou a fazer um doutorado na Universidade de Cambridge, onde se tornou a oitava pessoa a obtê-lo sem ter previamente um diploma de graduação.
- 'Salvar o planeta' -
Em 1977, fundou o Instituto Jane Goodall para promover a pesquisa e a conservação dos chimpanzés. Em 1991, lançou o Roots & Shoots, um programa ambiental liderado por jovens que hoje opera em mais de 60 países.
Seu ativismo cresceu muito na década de 1980 após ela participar de uma conferência nos Estados Unidos sobre chimpanzés, onde descobriu as ameaças que enfrentavam: a exploração na pesquisa médica, a caça para obtenção de carne de animais selvagens e a destruição generalizada de seu habitat.
Jane escreveu dezenas de livros, incluindo alguns para crianças. Apareceu em documentários e recebeu inúmeros prêmios, entre eles a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos das mãos do então presidente Joe Biden. Foi ainda imortalizada com uma figura de Lego e uma boneca Barbie.
"O tempo das palavras e das falsas promessas acabou se quisermos salvar o planeta", declarou à AFP no ano passado em uma entrevista antes de uma cúpula da ONU sobre a natureza na Colômbia.
Sua mensagem era também de responsabilidade pessoal e empoderamento: "Cada indivíduo é importante. Todos temos um papel a desempenhar. Cada um de nós tem um impacto no planeta todos os dias. E podemos escolher o tipo de impacto que teremos".
X. Barbosa--JDB