
Especialista no movimento Antifa deixa os EUA após ameaças de morte

Mark Bray é especialista no movimento antifascista "Antifa" na universidade de Rutgers, no leste dos Estados Unidos. Após receber ameaças de morte, decidiu deixar o país, onde o governo do presidente Donald Trump designou o grupo como "terrorista".
"Nosso avião para a Espanha está no ar!", escreveu o acadêmico nesta sexta-feira (10) em sua conta no Bluesky.
Aliviado por poder partir com sua família, Bray disse agradecido: "Gratidão infinita às inúmeras pessoas que nos apoiam de todas as formas possíveis e em especial aos estudantes e professores da Rutgers, que nos apoiaram a cada etapa", afirmou.
Bray e sua família tinham tentado partir para a Espanha na quarta-feira, mas depois de terem despachado suas malas e passarem pelo controle de segurança, "aconteceu uma coisa muito estranha", contou ele à AFP. "Alguém cancelou nossa reserva", disse, logo após o ocorrido.
"Tudo isso foi muito estressante, mais ainda com filhos pequenos. Minha vida deu uma reviravolta", acrescentou.
Este professor de história explicou sua situação aos seus alunos em um e-mail, ao qual a AFP teve acesso.
"Esta semana (...) recebi uma nova ameaça de morte, assim como outra mensagem com meu endereço. A universidade e a polícia já estão informadas. Minha família e eu não nos sentimos mais seguros em casa e decidimos passar o resto do ano na Europa", escreveu no domingo.
- Ameaça de assassinato na frente dos alunos -
O Antifa é um nebuloso grupo de esquerda que não está registrado legalmente e o presidente americano, Donald Trump, recentemente o designou como uma "organização terrorista doméstica".
Alguns manifestantes Antifa têm se envolvido cada vez mais em confrontos diretos com grupos de direita desde a primeira eleição de Trump para a Casa Branca, em 2016.
"Trump utiliza os Antifa para demonizar os protestos (nos Estados Unidos), que equipara ao terrorismo", afirmou Bray. O governo americano "tenta estender esse termo a todos de que não gosta e me rotulam como Antifa porque escrevi um livro sobre o tema", explicou.
O acadêmico reconhece seu "passado militante". "Em 2011, eu participei do Occupy Wall Street", um movimento de esquerda anticapitalista, "mas nunca fiz parte de um grupo antifascista".
Aos 43 anos e autor de vários livros sobre o antifascismo e os movimentos de esquerda, ele rapidamente se tornou alvo de publicações na rede X depois do assassinato de Charlie Kirk, um influenciador conservador pró-Trump, em 10 de setembro.
"Depois dessas publicações, recebi minha primeira ameaça de morte. Alguém me escreveu para dizer que ia me matar na frente dos meus estudantes", contou.
O militante de extrema direita Jack Posobiec se referiu a Bray como um "professor terrorista" e o criador de conteúdo conservador Andy Ngo o acusou de ser um "militante antifascista".
Trump convidou os dois para um evento na Casa Branca na quarta-feira, dedicado à "ameaça Antifa", que segundo a secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, é muito maior que as do grupo Estado Islâmico ou do movimento islamista palestino Hamas.
- "Professores a vigiar" -
Uma filial da organização Turning Point USA, fundada por Charlie Kirk, fez um pedido formal para exigir a demissão do professor da universidade de Rutgers, em Nova Jersey.
"Nós, estudantes da universidade de Rutgers, estamos profundamente preocupados de saber que um membro abertamente conhecido do Antifa, o Dr. Mark Bray, seja funcionário da universidade", diz a petição, que reunia quase 1.200 assinaturas de apoio nesta sexta-feira.
"Com a tendência atual do terrorismo de esquerda, ter um líder do movimento Antifa no campus é uma ameaça para os estudantes conservadores", acrescentou o texto.
A Turning Point USA também incluiu Bray em uma "lista de professores a vigiar".
Desde que voltou ao poder, em janeiro, Donald Trump tem atacado as universidades com uma série de medidas que sacudiram a comunidade acadêmica: temas de estudo proibidos, subvenções congeladas, pesquisadores declarados 'personae non gratae' por suas supostas posturas políticas.
Em março, vários professores anunciaram sua partida para o Canadá e também há estudantes que vão deixar os Estados Unidos para continuar seus estudos em outros países.
L. Rodrigues--JDB