O que explica a demora do resultado das eleições presidenciais em Honduras?
Os hondurenhos estão em suspense. Três dias após as eleições, continuam sem saber quem governará o país nos próximos quatro anos devido a problemas na apuração, que registra um empate técnico.
O apresentador de televisão de direita Salvador Nasralla (Partido Liberal) lidera com 40,3% dos votos, contra 39,6% do empresário conservador Nasry Asfura (Partido Nacional), que conta com o apoio do presidente americano Donald Trump.
A seguir, três fatores que explicam o caótico processo de contagem, que nesta quarta-feira (3) havia chegado a 79% das pouco mais de 19 mil atas eleitorais.
- Falhas técnicas -
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) contratou uma empresa privada — a colombiana ASD — para a transmissão de dados preliminares, a apuração geral e a divulgação dos resultados das eleições gerais de domingo.
Ao conceder o contrato, o CNE afirmou que a companhia havia cumprido uma "prova técnica altamente competente", mas seus sistemas registraram "problemas técnicos" que obrigaram a suspender a contagem preliminar durante a madrugada de segunda-feira.
A divulgação foi retomada ao meio-dia de terça-feira, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exigiu a continuidade do processo e ameaçou impor "consequências graves" caso houvesse mudança no resultado que dava então leve vantagem ao seu candidato.
A ASD afirmou que a falha ocorreu devido ao "alto volume" de registros, em referência às atas de votação dessas eleições, cuja taxa de participação ainda é desconhecida. Cerca de 6,5 milhões de cidadãos estavam aptos a votar.
Quando a divulgação foi retomada, Nasralla passou a liderar a contagem, embora sempre em empate técnico.
Nesta quarta, a plataforma entrou em "manutenção" sem aviso prévio, o que gerou reclamações do CNE.
É "ineficiência. O processo foi grande demais para o contratado. Parece que o vencedor só será divulgado na próxima semana", comentou à AFP Fernando Cerimedo, assessor de Asfura.
Após a contagem preliminar, começou uma "apuração especial" que inclui atas com possíveis inconsistências.
Em Honduras, onde as eleições presidenciais têm turno único, o vencedor pode ser proclamado com apenas um voto de diferença.
- Dificuldades logísticas -
Sem voto automatizado, as eleições em Honduras costumam enfrentar desafios logísticos, especialmente em regiões remotas.
O CNE leva até dez dias para distribuir o material eleitoral em veículos que saem da capital, Tegucigalpa, rumo aos 18 departamentos. O retorno leva tempo semelhante.
Em locais como a floresta tropical de Mosquitia, onde o acesso só é possível por via aérea ou marítima, é necessário transportar os documentos a cavalo ou em canoas.
O ex-presidente do CNE, Augusto Aguilar, lembrou à AFP que, por isso, a lentidão na contagem das atas sempre foi "normal". O que diferencia a situação atual é que o sistema digital de divulgação dos resultados foi interrompido.
Para ele, a proclamação poderá ser adiada devido à pequena diferença entre os candidatos, o que permite que o CNE realize uma apuração especial na qual são revisadas "minuciosamente as atas em poder de todos os partidos".
- Árbitro politizado -
A independência do CNE também está sob questionamento constante. Sua diretoria é formada por cinco funcionários — três titulares e dois suplentes — indicados pelos principais partidos.
Uma recente disputa entre dois de seus integrantes atrasou o calendário eleitoral, em meio a acusações mútuas de planos de fraude.
O conflito começou quando um conselheiro governista de esquerda denunciou uma colega da oposição ao Ministério Público por uma suposta trama para favorecer a direita nos resultados preliminares.
Por sua vez, a acusada afirmou que os áudios que sustentavam a denúncia foram gerados por inteligência artificial.
P. da Silva--JDB