Candidato apoiado por Trump e apresentador de TV estão tecnicamente empatados em Honduras
Os candidatos de direita à Presidência de Honduras - o empresário Nasry Asfura, apoiado por Donald Trump, e o apresentador de TV Salvador Nasralla, estão tecnicamente empatados na apuração dos votos, informou nesta segunda-feira (1º) o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
As eleições representam um revés para a esquerda, liderada pela presidente Xiomara Castro, que governa um dos países mais pobres e violentos da América Latina, afetado pelo narcotráfico e pela corrupção.
O pleito de ontem foi marcado pela ameaça do presidente americano de cortar a ajuda ao país centro-americano se seu candidato não for eleito.
Asfura, 67, ex-prefeito de Tegucigalpa, superava Nasralla, 72, por 515 votos, após a contagem digital de 57% das atas de votação, publicou no X a presidente do CNE, que não informou quando a apuração manual será concluída. Asfura, do Partido Nacional, tinha 39,91% dos votos, contra 39,89% para Nasralla, do Partido Liberal.
Os dois candidatos basearam suas campanhas na tese de que a permanência da esquerda tornaria Honduras a nova Venezuela, mergulhada em uma crise profunda, e se mostraram dispostos a se aproximar de Taiwan, em detrimento da relação com a China.
"É impossível determinar o vencedor com os dados que temos", disse o analista político Carlos Cálix.
- Histórico de fraudes -
Em um país com histórico de fraudes eleitorais e golpes de Estado, os hondurenhos tinham a missão de decidir entre renovar a confiança em seu primeiro governo de esquerda ou seguir os passos da Bolívia e da Argentina, cujo presidente, Javier Milei, também anunciou apoio a Asfura.
Quase 6,5 milhões de hondurenhos estavam registrados para escolher quem sucederá a presidente Xiomara Castro em uma votação de turno único, que também define deputados e prefeitos para mandatos de quatro anos.
Após uma campanha marcada por denúncias antecipadas de fraude, o dia de votação transcorreu em um ambiente de calma, segundo a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Asfura disputa a Presidência pela segunda vez, após a derrota em 2021 para Xiomara, e Nasralla está em sua terceira candidatura.
Trump entrou na campanha na reta final e disse que "Tito" Asfura é o "único verdadeiro amigo da liberdade". O presidente americano afirmou que uma derrota de seu candidato deixaria Honduras sob o controle do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e de "seus narcoterroristas".
Trump alertou que não poderia trabalhar com Nasralla, a quem chamou de "quase comunista" por ter tido um cargo no alto escalão do atual governo, com o qual rompeu posteriormente. Na última sexta-feira, o presidente americano anunciou que concederá um indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, que governou com o PN de 2014 a 2022 e foi condenado em 2024 a 45 anos de prisão por narcotráfico nos Estados Unidos.
A candidata de esquerda, Rixi Moncada, 60, do Partido Livre, estava a mais de 20 pontos de distância, segundo a apuração. Ela denunciou ontem que o perdão a esse "chefão das drogas" foi "tramitado" pelas elites locais. Asfura afirmou que a questão "não tem relação com as eleições".
A polarização que marcou a campanha eleitoral é uma sequela do golpe de Estado de 2009 contra o presidente Manuel Zelaya, marido de Xiomara Castro, que foi deposto pela direita ao se aproximar da Venezuela.
- Os desafios: pobreza e segurança -
Preocupados com a troca de ataques, os candidatos pouco abordaram durante a campanha as preocupações dos hondurenhos: a pobreza, a violência das gangues, a corrupção e o narcotráfico.
Honduras é um país extremamente dependente dos Estados Unidos, com 60% de seus 11 milhões de habitantes vivendo na pobreza e 27% de seu PIB alimentado pelas remessas dos imigrantes.
Manuel Orozco, analista do Diálogo Interamericano, disse à AFP que o grande desafio do próximo governo é o emprego, pois a informalidade está na faixa de 70%.
Em um dos países mais violentos do continente, com as instituições infiltradas pelo narcotráfico, as eleições aconteceram sob um estado de exceção parcial imposto por Castro em 2022.
Valeria Vásquez, da Control Risks, também citou o desafio de sanar a "fragilidade" de instituições politizadas e o controle que o governo exerce sobre o Ministério Público e as Forças Armadas.
M. Silva--JDB