Morte de família em bombardeio provoca ira contra Israel e Hamas em Gaza
Várias mulheres palestinas choravam neste sábado (27) enquanto velavam uma família morta em um ataque israelense na Cidade de Gaza, expressando sua raiva tanto contra Israel quanto contra o Hamas pelo derramamento de sangue que assola a cidade.
Cinco membros da família Bakr morreram durante a noite no ataque ao campo de refugiados de Al Shati, na Cidade de Gaza, onde as forças israelenses intensificam sua ofensiva terrestre e aérea.
"O que está acontecendo são massacres, massacres condenados internacionalmente", disse Umm Khalel, que sobreviveu quando a casa da família foi atingida.
Imagens da AFP mostram mulheres com abayas pretas chorando inconsoláveis, uma delas abraçando fortemente o pequeno corpo de seu filho contra o peito.
"O que o mundo quer de nós? O que [o primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu quer? O que o Hamas quer?", lamentou Salwa Subhi Bakr.
Os corpos, envoltos em sudários brancos, alguns manchados de sangue, foram depois levados para o sepultamento.
Salwa, deslocada pela guerra que já dura quase dois anos, disse que as famílias não têm nenhum lugar seguro para onde fugir.
"Eles nos dizem para irmos para lá, depois para voltarmos aqui. De onde tiramos dinheiro para caminhões? As pessoas estão nas ruas, espalhadas por todo o sul. Para onde devemos ir? Encontrem uma solução para nós", pediu.
Desde que lançou sua campanha aérea sobre a Cidade de Gaza no final do mês passado, seguida de uma ofensiva terrestre, o Exército israelense ordenou repetidamente aos palestinos para se dirigirem rumo ao sul.
Cerca de 700.000 pessoas já fugiram desde então, segundo a força militar israelense.
- 'Terminar o trabalho' -
Ao mesmo tempo, Israel continuou atacando outras partes da Faixa de Gaza, lar de mais de dois milhões de pessoas, a maioria das quais foi deslocada pelo menos uma vez desde o início da guerra.
A Defesa Civil da Faixa de Gaza, uma organização de primeiros socorros que opera sob autoridade do Hamas, indicou que sete pessoas morreram "em um bombardeio israelense" no campo de Al Shati, o que eleva o balanço total de mortos neste sábado em todo o território palestino para 82 pessoas. Destas, 38 perderam a vida na Cidade de Gaza.
Por sua vez, o hospital Al Shifa, o principal da cidade, confirmou que recebeu seis corpos de pessoas que morreram durante o ataque em Al Shati. O Exército israelense não comentou essa informação até o momento.
As restrições aos meios de comunicação em Gaza e a dificuldade de acessar muitas áreas impedem que a AFP verifique de maneira independente os balanços ou os detalhes fornecidos pela Defesa Civil ou pelo Exército israelense.
Imagens da AFP no pátio de um hospital no centro de Gaza feitas neste sábado mostram vários corpos em sudários brancos, vítimas de um ataque no campo de refugiados de Nuseirat.
Montes de blocos de concreto e buracos abertos marcavam o local do impacto que destruiu um prédio no campo.
Grupos de homens e crianças reviravam os escombros, resgatando o que podiam.
Na sexta-feira, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Netanyahu prometeu "terminar o trabalho" contra o Hamas, apesar da condenação internacional generalizada da ofensiva intensificada.
Neste sábado, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou que o Exército "intensifica o alcance de seus bombardeios em Gaza e avança para a fase decisiva".
"Mais de 750.000 habitantes evacuaram a Cidade de Gaza para o sul", indicou o ministro na rede social X.
"Se o Hamas não libertar todos os reféns e não se desarmar, Gaza será destruída e o Hamas será eliminado", acrescentou.
A guerra em Gaza estourou depois que milicianos palestinos liderados pelo Hamas atacaram Israel em 7 de outubro de 2023.
Suas ações provocaram a morte de 1.219 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em cifras oficiais israelenses.
A ofensiva militar de retaliação de Israel matou, desde então, pelo menos 65.926 pessoas, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde de Gaza — território governado pelo Hamas —, números que a ONU considera confiáveis.
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A. Ribeiro--JDB