
Zelensky e Trump conversam sobre defesa aérea após bombardeio russo recorde na Ucrânia

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou nesta sexta-feira (4) que, durante uma conversa telefônica com seu homólogo americano, Donald Trump, ambos concordaram em "reforçar" a defesa aérea da Ucrânia, após o maior bombardeio russo contra a ex-república soviética desde o início da guerra em 2022.
A Rússia afirmou, por sua vez, que "não é possível" alcançar seus objetivos na Ucrânia pela via diplomática, implicando a continuação dos combates e ataques contra um adversário em dificuldade na linha de frente.
Ao fim do telefonema com Trump, que abordou, sobretudo, "as possibilidades de defesa antiaérea", Zelensky anunciou que os dois dirigentes haviam concordado em "trabalhar juntos para reforçar a proteção" do céu ucraniano.
O presidente da Ucrânia não forneceu mais detalhes, no momento em que as cidades ucranianas continuam sofrendo ataques russos devido à falta de sistemas de defesa aérea que cubram todo o país de forma eficaz.
Na quinta-feira, Trump manteve uma conversa com seu contraparte russo, Vladimir Putin, que, novamente, terminou sem anúncios importantes para resolver o conflito.
Como prova do impasse nas negociações de paz, apesar de sua retomada em maio, o mandatário americano admitiu na quinta-feira que não havia feito "nenhum avanço" durante sua telefonema com Putin.
Além disso, uma terceira rodada de negociações diretas russo-ucranianas ainda não foi anunciada, um mês após uma última reunião mal-sucedida na Turquia.
Putin continua exigindo que a Ucrânia ceda quatro regiões, além da Crimeia anexada em 2014, e renuncie à sua adesão à Otan, condições inaceitáveis para a Ucrânia, que demanda a retirada das tropas russas de seu território.
- "Noite brutal" -
O mandatário russo reiterou a Trump que a Rússia "não renunciará a seus objetivos" na Ucrânia. Neste momento "não é possível", visto que "a operação militar especial" prosseguirá, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, nesta sexta-feira.
Paralelamente, os militares russos continuaram bombardeando a Ucrânia. Durante a noite, lançaram 550 mísseis, incluindo 539 drones, contra Kiev, segundo a Força Aérea ucraniana.
"Foi uma noite brutal", lamentou Zelensky, e os serviços de emergência relataram pelo menos um morto e 26 feridos, incluindo uma criança.
Um porta-voz militar da Força Aérea ucraniana afirmou que este bombardeio foi o maior ataque aéreo contra a Ucrânia desde o início da guerra em 2022.
A Ucrânia afirmou ter neutralizado 478 dos 550 mísseis disparados pelo Exército russo, que alegou ter atingido um aeródromo militar e uma refinaria de petróleo.
Timur, morador de Kiev, afirmou que nunca havia observado um ataque tão intenso. "Nunca havia acontecido nada parecido com este ataque. Foram muitas explosões", contou.
Para o presidente ucraniano, esta é mais uma prova de que "sem uma pressão em larga escala, a Rússia não mudará seu comportamento estúpido e destrutivo".
- "Absoluta falta de consideração" -
A Rússia intensificou os ataques noturnos nas últimas semanas. Segundo uma contagem da AFP, Moscou lançou um número recorde de drones e mísseis contra a Ucrânia em junho, o que coincidiu com a estagnação nas negociações de paz diretas entre Kiev e Moscou.
"Putin está mostrando claramente sua absoluta falta de consideração pelos Estados Unidos e por qualquer um que peça o fim da guerra", declarou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Sibiga.
A intensificação dos ataques gera preocupação depois que o governo dos Estados Unidos anunciou esta semana que suspenderá o envio de algumas armas para a Ucrânia, um apoio crucial para repelir os bombardeios.
O Exército russo continua avançando na linha de frente e afirmou nesta sexta-feira ter capturado uma nova localidade no leste da Ucrânia, o povoado de Predtechin, nos arredores da fortaleza ucraniana de Kostiantinivka.
Nos territórios ocupados pela Rússia, quatro pessoas morreram nesta sexta em um ataque ucraniano a Donetsk, segundo as autoridades locais instaladas em Moscou.
Apesar dos ataques, Rússia e Ucrânia anunciaram nesta sexta-feira que realizaram uma nova troca de prisioneiros de guerra, como parte de um acordo alcançado no início de junho em um diálogo indireto em Istambul.
L. Araujo--JDB