
Ouro, carta real e indicações ao Nobel: como ganhar favores de Trump

O CEO da Apple, Tim Cook, foi direto ao ponto: "É ouro 24 quilates (...)". "Uau", reagiu Donald Trump, encantado, ao receber o presente - uma peça feita sob medida pela Corning, fabricante de vidros para iPhone.
A cena ocorreu na quarta-feira passada (8) no Salão Oval da Casa Branca. Um dos muitos esforços exagerados de líderes mundiais e empresários para ganhar os favores do presidente dos Estados Unidos.
O presidente republicano e multimilionário é amante de tudo que brilha, como fica evidente na reforma de seu escritório, que ele encheu de adornos dourados. Ele também gosta de ver seu nome em negrito.
Essas preferências não passaram despercebidas por Cook, que está ciente da importância de manter um bom relacionamento com o chefe de Estado que criticou a Apple por não fabricar seus iPhones nos Estados Unidos. Chegou a ameaçar punir a empresa.
Cook prometeu um investimento adicional de 100 bilhões de dólares (546,3 bilhões de reais na cotação atual) nos Estados Unidos.
Além disso, presenteou Trump com um disco de vidro, desenhado por um ex-militar que trabalha para a Apple, com o nome do presidente americano gravado. O vidro foi fabricado no estado de Kentucky e a base de ouro maciço, no Utah.
- "Visionário" -
Em um tom mais solene, o primeiro-ministro cambojano Hun Manet acaba de nomear Trump para o Prêmio Nobel da Paz, uma honra que o magnata imobiliário e estrela de reality show acredita merecer por mediar vários conflitos.
A carta de Hun Manet ao Comitê Nobel norueguês elogiou a "diplomacia visionária e inovadora" de Trump, bem como suas "contribuições históricas para promover a paz mundial".
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, ansioso por manter o apoio de Washington ao seu governo em meio à guerra em Gaza, também indicou Trump, assim como o Paquistão.
O Comitê Nobel não publica a lista dos indicados ao prêmio.
Alguns líderes estrangeiros e magnatas parecem ter entendido melhor do que outros como funciona Trump, de 79 anos, e o elogiam apesar da agenda protecionista do republicano, que atinge parceiros e rivais com tarifas às vezes astronômicas.
Para uma reunião na Casa Branca no final de fevereiro, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer levou uma carta assinada pelo rei Charles III convidando Trump para uma visita oficial. Não é algo trivial, considerando o gosto do presidente por tudo que diz respeito à realeza.
O líder trabalhista também visitou Trump quando estava de férias na Escócia e admirou com devoção dois dos seus campos de golfe.
A maioria dos produtos do Reino Unido está sujeita a uma tarifa de 10%, inferior aos 15% da União Europeia.
- "Não queria ouvir" -
Um dos países com tarifas alfandegárias extremamente altas é a Suíça, com 39% aplicados a quase 60% de suas exportações para os Estados Unidos.
A presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, não conseguiu um encontro presencial com Trump durante sua visita de emergência a Washington esta semana, buscando conter os danos.
Em uma entrevista na terça-feira à CNBC, Trump disse: "Fiz algo com a Suíça dias atrás. Falei com a primeiro-ministra (sic) deles. A mulher foi simpática, mas ela não queria ouvir".
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, que tem dupla nacionalidade suíça e italiana, foi recebido com entusiasmo na Casa Branca.
Em março, ele entregou a Trump o troféu da Copa do Mundo de Clubes, uma enorme escultura esférica dourada que permaneceu no Salão Oval durante semanas.
Mas, de longe, o presente mais comentado que Trump recebeu foi do Catar: um Boeing 747 para ser recondicionado para uso como Air Force One.
Trump ignorou as críticas da oposição democrata e disse que seria "estúpido" recusar um presente como esse, avaliado em cerca de 400 milhões de dólares (2,1 bilhões de reais na cotação atual).
E. Carvalho--JDB