
Mostra de Veneza entrega seus prêmios em uma edição sacudida pela guerra em Gaza

A 82ª Mostra de Veneza anuncia sua premiação, neste sábado (6), ao final de uma edição repleta de estrelas de Hollywood e na qual a realidade geopolítica predominou, dentro e fora das telas.
Vinte e um filmes disputam o Leão de Ouro, que será atribuído pelo diretor americano Alexander Payne em uma cerimônia a partir das 19h locais (14h de Brasília).
Entre os filmes em disputa, causou comoção "The Voice of Hind Rajab", da franco-tunisiana Kaouther Ben Hania, ovacionado durante 23 minutos no dia de sua estreia.
O filme se baseia na história real de uma menina palestina, Hind Rajab, assassinada pelas forças israelenses enquanto tentava fugir da Cidade de Gaza.
A produção reconstitui as longas horas daquele 29 de janeiro de 2024 em um centro de emergência da organização Crescente Vermelho palestino, cujos trabalhadores tentaram salvar a menina, refugiada em um carro com outros seis familiares.
No filme foram usados gravações reais do pedido de socorro de Hind Rajab.
"Estamos vendo que, em todo o mundo, a mídia apresenta os mortos em Gaza como danos colaterais. Acho muito desumanizante, por isso o cinema, a arte e todas as formas de expressão são tão importantes para dar uma voz e um rosto a estas pessoas", afirmou Ben Hania.
Desde que a mostra começou, em 27 de agosto, o glamour do festival foi ofuscado em vários momentos pela situação devastadora na Faixa de Gaza, cenário de uma guerra desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel.
Um coletivo fundado por dez cineastas italianos, o Venice4Palestine, publicou uma carta aberta condenando a guerra e várias personalidades se pronunciaram contra a ofensiva israelense.
Em 30 de agosto, milhares de pessoas manifestaram apoio aos palestinos no Lido, a ilha onde se realiza o festival.
- Três adaptações -
Outro tema quente da atualidade que fez eco no festival foi a guerra na Ucrânia, com o filme "O Mago do Kremlin", uma adaptação de Olivier Assayas do romance homônimo de Giuliano da Empoli.
No filme, Jude Law interpreta Vladimir Putin, um papel que não lhe deu "medo", assegurou. Paul Dano dá vida a um influente assessor do presidente, Vadim Baranov.
Esta 82ª edição teve grande presença de estrelas, com um tapete vermelho por onde passaram, em alguns dias debaixo de chuva, George Clooney, Julia Roberts e Jacob Elordi, que interpreta o mostro cativante de Frankenstein no último filme do diretor mexicano Guillermo del Toro.
Acompanham Elordi nesta adaptação do relato de Mary Shelley, publicado em 1818, produzida pela Netflix, Oscar Isaac no papel do egocêntrico doutor Frankenstein, e Mia Goth no papel de Elizabeth.
Uma terceira adaptação vai disputar o Leão de Ouro: "O Estrangeiro", filme baseado no romance do autor existencialista Albert Camus, dirigido por François Ozon e protagonizado por um apático e retraído Benjamin Voisin.
- Alienígenas e religião -
Neste sábado também serão entregues os prêmios de melhor interpretação masculina e feminina, a Copa Volpi, que poderia contemplar o desempenho de Emma Stone, protagonista de "Bugonia", último filme do grego Yorgos Lathimos.
No longa, uma crítica feroz ao sistema e à situação atual do mundo, em meio a mudanças climáticas, precariedade no trabalho, desinformação e desigualdades sociais, Stone interpreta uma alta executiva sequestrada por dois homens (Jesse Plemons e Aidan Delbis) por suspeitarem que ela seja uma alienígena.
Outra candidata ao prêmio é Amanda Seyfried, que canta e se sacode com força ao entrar em transe no papel da fundadora do movimento religioso dos "shakers" em "The Testament of Ann Lee", de Mona Fastvold.
O ator e ex-lutador americano Dwayne "The Rock" Johnson também poderia levar uma Copa Volpi por sua atuação em "The Smashing Machine" (Benny Safdie), sobre Mark Kerr, um dos primeiros lutadores de artes marciais mistas (MMA).
Mas o júri também poderia premiar o trabalho de Toni Servillo, que dá vida a um presidente italiano confrontado com o dilema de aprovar ou não uma lei sobre a eutanásia no filme "La Grazia", de Paolo Sorrentino, que abriu a Mostra.
No encerramento, após a cerimônia de premiação, será exibido "Chien 51", filme do francês Cédric Jiménez, ambientado em uma Paris futurista, onde a manutenção da ordem está a cargo da inteligência artificial.
L.M. Cardoso--JDB