
Brasil tem temporada com mais de 300 eventos culturais na França

Com mais 300 eventos culturais, o Brasil protagoniza uma densa temporada cultural na França até outubro, desde a primeira exposição da artista Anna Maria Maiolino, de 83 anos, no Museu Picasso, até o desfile carnavalesco na Champs-Élysées em julho.
Ambos os países celebram este ano o 200º aniversário do estabelecimento de suas relações diplomáticas, e o objetivo deste calendário de eventos em mais de 50 cidades é apresentar uma imagem do Brasil "longe dos clichês", nas palavras do curador da mostra, Emilio Kalil.
"São artistas que não são desconhecidos no Brasil, mas sim na França", disse Kalil à AFP nesta quarta-feira (11), durante uma visita da imprensa à exposição de Maiolino, que será inaugurada em 14 de junho.
Entre estes artistas está o autodidata José Antônio da Silva (1909-1996), cuja retrospectiva no Museu de Grenoble, aberta até 6 de julho, é a primeira realizada na Europa.
Ou Ernesto Neto, cujas instalações gigantescas de crochê, terra e vegetais, como árvores amazônicas, estão penduradas desde a semana passada no Grand Palais, em Paris.
"São 308 projetos ao longo de seis meses, com mais de 650 artistas no total", diz Kalil, que trabalhou por mais de um ano na composição desta agenda.
O teatro brasileiro também será o convidado de honra no "off" (eventos alternativos) do renomado Festival de Avignon.
A "Temporada Brasil-França" também se repete em solo brasileiro, sob a direção da curadora Anne Louyot.
"Sou uma imigrante italiana, primeiro na Venezuela, depois no Brasil", resumiu Maiolino em uma entrevista à AFP ao apresentar sua primeira grande retrospectiva.
Considerada uma das maiores artistas vivas do Brasil, Maiolino cultiva a gravura, a escultura em argila e os eventos filmados, como o que reproduziu em março em São Paulo: andar com os olhos vendados em um chão repleto de ovos.
Uma performance que reflete a incerteza que o país vivia durante a ditadura militar em 1980, quando a artista interpretou este ato em público pela primeira vez.
Dois filmes brasileiros que abordam este período turbulento ganharam prêmios nos últimos meses: "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar, e "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, melhor diretor no recente Festival de Cannes (e que faturou o prêmio de melhor ator para Wagner Moura).
Estrelar uma exposição antológica no Museu Picasso, depois de 65 anos de carreira, é "uma homenagem porque me sinto muito próxima de Picasso, que era alguém muito curioso, que usava muitos suportes" para criar, explicou Maiolino à AFP.
- Tambor em uníssono -
"Nosso Barco Tambor Terra", a obra de Ernesto Neto instalada no grande salão do Grand Palais, é uma alegoria "do que queremos fazer do planeta", explicou o artista à AFP.
"Vamos tocar o tambor em uníssono, no mesmo ritmo, para seguir em frente?", questiona ele.
Para responder a esta pergunta à sua maneira, Lenine e a Orquestra SpokfFrevo tocarão neste domingo em Toulouse (sudoeste) e, em 5 de julho, o Grand Palais, em Paris, receberá novamente um baile popular ao ritmo do samba.
No dia seguinte, o desfile "Carnaval Tropical" deixa sua marca na Champs-Élysées.
V.J. Coelho--JDB