
Casa Branca de Trump cria seu próprio universo midiático

A Casa Branca criou uma realidade midiática alternativa, com sessões informativas para influenciadores e memes do presidente Donald Trump retratado como papa ou mestre Jedi da série "Guerra nas Estrelas".
Desde que o republicano voltou ao poder, em janeiro, sua equipe deu aos "novos meios" de comunicação da direita um lugar cada vez mais proeminente, ao mesmo tempo em que intensifica sua guerra contra a imprensa tradicional.
Mas a Casa Branca deu mais um passo com uma operação midiática dirigida às bases leais a Trump.
Na semana passada, a porta-voz Karoline Leavitt realizou três sessões informativas reservadas a um grupo de veículos de mídia partidários.
Estas sessões paralelas são realizadas em um auditório especial, situado do outro lado da rua, ao qual os jornalistas não têm acesso livre.
"Estou totalmente de acordo com o argumento de sua pergunta, o que não costuma ocorrer", disse Leavitt ao ativista de direita Jack Posobiec durante uma coletiva de imprensa em 30 de abril.
Dom Lucre, um defensor da teoria da conspiração direitista QAnon, fez outra pergunta.
"Existe alguma possibilidade de que nomes como Barack Hussein Obama ou Hillary Rodham Clinton sejam investigados alguma vez?", perguntou a Leavitt.
A Casa Branca não respondeu às perguntas da AFP sobre sua nova estratégia.
- "Câmara de eco" -
Trump, um ex-astro de reality show, e sua equipe apostam nas redes sociais desde seu primeiro mandato (2017-2021).
Durante a campanha eleitoral de 2024, Trump se aproximou de podcasters e influenciadores, inspirado em parte por seu filho, Barron, de 19 anos.
A nova abordagem é como uma continuação de sua estratégia de campanha.
Para a plataforma de notícias Axios, "a Casa Branca de Trump é o meio de comunicação de direita mais em voga".
Isto corre o risco de criar uma "câmara de eco", avalia Sonia Gipson Rankin, professora de direito na universidade do Novo México.
Segundo Rankin, o uso que Trump faz das redes sociais, as imagens de inteligência artificial e os "apelos diretos através de influenciadores partidários" criou "um espaço de versões alternativas dos acontecimentos onde o governo não está preso à realidade".
"Em um segundo mandato, a preocupação é que esta câmara de eco possa ficar ainda mais isolada", disse à AFP.
Na semana passada, também foi lançado o "White House Wire", um site desenhado para se parecer com o portal americano "Drudge Report", com links para histórias favoráveis e as redes sociais da administração.
"Levante o dedo do meio para as notícias falsas e dê um olhada no WH Wire!!!!", postou o filho de Trump, Don Jr, na rede X com um link.
Enquanto isso, a Casa Branca reduz o acesso de alguns veículos de comunicação de referência, sobretudo a agência de notícias americana Associated Press, a partir de um confronto por se negar a chamar o "Golfo do México" de "Golfo da América".
A Casa Branca também assumiu o controle para decidir quais veículos fazem parte do "pool de imprensa" que cobre alguns atos presidenciais em locais como o Salão Oval ou o avião Air Force One.
- Sabre de luz -
E o Executivo recorre cada vez mais a memes provocativos para inflamar os apoiadores de Trumo e incomodar seus oponentes "liberais" e da esquerda.
Trump provocou polêmica depois que sua plataforma, Truth Social, publicou na sexta-feira uma imagem gerada por inteligência artificial de si mesmo vestido como o papa, menos de uma semana depois de ele assistir ao funeral de Francisco em Roma.
Trump insistiu em dizer que ele não publicou o meme, mas declarou que sua esposa, Melania, achou "adorável" e rejeitou qualquer crítica.
"Não sabem lidar com uma brincadeira", disse Trump aos jornalistas na última segunda-feira, quando foi perguntado sobre a imagem do papa.
No domingo, a conta oficial da Casa Branca publicou uma imagem de Trump musculoso com um sabre de luz para celebrar o dia 4 de maio, comemorado pelos fãs da série "Guerra nas Estrelas".
"Não são a Rebelião, são o Império", dizia a mensagem, que atacava os rivais de esquerda de Trump, comparando-os às forças imperiais de Darth Vader e outros vilões da saga.
Mas, segundo a imprensa americana, ele errou de cor. O sabre de luz exibido por Trump era vermelho e no universo de "Guerra nas Estrelas", isto sugere um alinhamento com o lado obscuro da força.
O. Henrique--JDB