
Pedro Sánchez afirma que desconhecia suposta corrupção do dirigente socialista espanhol que renunciou

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, descartou nesta quinta-feira (12) renunciar e convocar eleições, como exige a oposição, após a renúncia do número três de seu Partido Socialista devido a um escândalo de corrupção — um dos casos que enfraquecem o governo de esquerda.
"Quero pedir perdão porque até esta manhã eu estava convencido da integridade de Santos Cerdán", afirmou Sánchez em entrevista coletiva, poucos momentos depois de o secretário de Organização socialista renunciar ao partido e à sua cadeira como deputado no Congresso dos Deputados.
Sánchez afirmou que, embora "não soubesse absolutamente nada" sobre as supostas irregularidades até esta quinta-feira, jamais deveria ter "confiado" em Cerdán, um socialista muito próximo dele há anos e que desempenhou tarefas importantes, como negociar na Suíça com o independentista catalão Carles Puigdemont o apoio vital de seu partido ao governo minoritário no Parlamento.
Ainda assim, Sánchez, no poder desde 2018, descartou a convocação de eleições antecipadas, alegando que este caso "não afeta o governo da Espanha, mas apenas o partido".
Cerdán, que no organograma do partido estava abaixo apenas de Sánchez e da vice-presidente do governo e ministra da Fazenda, María Jesús Montero, renunciou depois que, nesta quinta-feira, um juiz do Tribunal Supremo revelou um relatório policial que mostra "indícios consistentes sobre a possível participação" do socialista "em uma adjudicação indevida" de contratos públicos em troca de dinheiro.
Trata-se do caso que está sendo investigado envolvendo o ex-ministro e ex-braço direito de Sánchez, José Luis Ábalos, e seu assessor próximo, Koldo García.
Ábalos, influente ex-ministro dos Transportes entre 2018 e 2021, que foi expulso do PSOE quando o escândalo veio à tona no ano passado, é suspeito de cometer crimes de integração em organização criminosa, tráfico de influência, suborno e desvio de fundos por ter obtido dinheiro por contratos adjudicados durante a pandemia de covid.
Santos Cerdán foi convocado a depor perante o juiz do Supremo em 25 de junho, quando afirmou que oferecerá "todas as explicações pertinentes para demonstrar" sua inocência.
Esse caso é um verdadeiro incômodo para Sánchez, cujo entorno enfrenta vários processos judiciais abertos.
A esposa de Sánchez, Begoña Gómez, está sendo investigada por suposta corrupção e tráfico de influência; seu irmão, David Sánchez, será julgado por suposto tráfico de influência por sua contratação em uma instituição pública; e o procurador-geral, nomeado pelo governo, está a um passo de se sentar no banco dos réus por vazar documentos judiciais contra a oposição.
- "Trama mafiosa" -
O principal partido da oposição, o Partido Popular (PP, de direita), atacou nesta quinta-feira Sánchez, a quem exigiu "explicações, renúncias" e a convocação de eleições.
Os deputados do PP receberam Cerdán nesta quinta-feira no Congresso com gritos de "renúncia".
"O senhor Sánchez tem que renunciar já", exigiu mais tarde o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, em entrevista coletiva, qualificando as explicações do socialista de "insuficientes e decepcionantes".
"Se não o fizer por vontade própria, estão aí seus sócios", que sustentam o governo — entre eles o partido de extrema esquerda Sumar. "Eles têm que decidir se também querem continuar sendo cúmplices", acrescentou.
O ministro da Cultura, Ernest Urtasun, membro do Sumar, já havia solicitado durante o dia, "como primeira medida", que os socialistas afastassem Cerdán do partido e do Congresso.
"Nesses casos, a cidadania nos exige contundência. Nos exige que sejamos absolutamente claros na luta contra a corrupção (...) A maioria progressista deste país temos que cuidar dela", declarou aos jornalistas.
O Junts per Catalunya, partido do independentista Carles Puigdemont, cujo apoio parlamentar foi fundamental para a última investidura de Sánchez, pediu, por sua vez, uma "reunião urgente" com os socialistas para avaliar a "viabilidade" da legislatura após os fatos revelados nesta quinta-feira.
M. de Jesus--JDB